Você tem medo de quê?
Por Hayanne Narlla
A fobia é considerada um sentimento de medo por quem possui. Já para quem está por fora do assunto, o pavor é considerado muitas vezes irrelevante.
A psicanalista e professora substituta da Unifor, Juçara Mapurunga, através de uma análise do tema, ajuda a entender em que consiste o tal receio.
Segundo a psicóloga, a fobia consiste na transposição do afeto, mais especificamente da angústia, para um objeto externo.
“Diante desse objeto, animal ou determinada organização do espaço, que funcionam como sinais de angústia, o sujeito reagiria com um ataque de pânico ou um medo desmedido”, explicou.
A psicanalista e professora substituta da Unifor, Juçara Mapurunga ressalta que o principal sintoma da fobia é o pavor contínuo e imotivado que afeta alguém, mesmo que o ser vivo,
objeto ou situação não apresentem perigos reais. “É um temor injustificado e não racional diante destes objetos, seres ou situações,
e cujo ilogismo é reconhecido pelo sujeito, mas que o domina repetidamente, tendo como consequência uma inibição no campo da ação e quase, sempre no campo da representação”, afirma:
Doença ou trauma?
Sobre os motivos que geram a fobia, Juçara falou que, em determinados casos, pode ser considerada até uma enfermidade.
“Como em uma histeria de conversão, causando uma paralisia, por exemplo, que limita a atividade do indivíduo, fazendo dele um incapaz, com as consequências que disso implica”, explica.
Mesmo assim, o trauma seria a melhor opção de causa, gerando a própria patologia. De acordo com a psicanalista,
o trauma é um evento que a pessoa não consegue assimilar, geralmente de ordem sexual. “Então o que impediu o sujeito de ter uma reação ao trauma é o que vai determinar sua resposta patológica”, disse.
Tipos de fobias
Com um leque variado de possíveis medos humanos, os mais comuns são: Fobia de animais; altura; lugares fechados e abertos
( rua, lugares onde se expõe à violência etc); escuro; que alguém amado possa morrer; personagens irreais ( fantasmas, bruxas etc) e reais ( médico, dentistas etc); e elementos naturais ( silêncio, fogo, ondas do mar, trovão etc).
O nível de gravidade das fobias mudam de acordo com as pessoas e de como elas encaram o problema. De acordo com Mapurunga,
os perigos reais que podem ser gerados a partir do pânico devem ser levados em conta. “Ou seja, um simples medo de barata,
pode causar danos graves, se o nível de angústia for tão intenso que faça a pessoa subir em lugares que podem ocasionar quedas e severos riscos à sua integridade
(…) pode vir a ser fonte de grandes danos, que podem levar à morte se não tratada para evitar os ataques de angústia diante daquilo que causa a fobia”, ressaltou.
Tratamento
Uma pessoa pode ser diagnosticada com fobia quando o objeto que causa o medo é identificado e o sujeito considerado como fóbico a ele.
“Quando ela [a pessoa] fica com um comportamento rígido e repetitivo diante de objetos ou certas circunstâncias que a deixam paralisada de medo, ou quando não consegue agir motivada pelo medo” pontuou Juçara.
O tratamento pode ser realizado com psicoterapia e ou tratamento psiquiátrico. De acordo com Mapurunga, cada caso é estudado de
forma particular e a escolha do tratamento deve ser feita segundo a organização da personalidade e do medo em questão, levando em consideração o que produziu esse sintoma por necessidade.
Ainda segundo a psicóloga, no tratamento psicanalítico busca-se saber o que liga o objeto que causa o medo ao significado da fobia,
“um elemento significativo da história do sujeito que mascara sua angústia fundamenta”.
Após essa descoberta, Juçara afirmou que procura-se, através da fala do paciente, fazê-lo ressignificar, ou seja dar outro significado,
a relação com o objeto que lhe causa angústia, fazendo-o recontar sua história de forma menos dolorosa. “Que a angústia real possa se escrever de outra forma,
possa ser sublimada de outra forma que não através da angústia transportada para o objeto fóbico”, comentou.
Acrofobia, o medo de altura
Por Roberta Tavares
Só de pensar em olhar para baixo, o arrepio sobe pelas costas e a respiração fica ofegante. Quem sofre com medo de altura passa
por dificuldades que parecem absurdos aos olhos dos outros, a exemplo da atriz Fernanda Das Mädchen, de 23 anos.
De onde veio o medo, ela não sabe explicar. Fernanda conta que desde pequena tem pavor à altura. Segundo a atriz,
a acrofobia vem aumentando com o passar dos anos. “Antes eu tinha medo apenas quando estava em algum lugar alto, agora
caminho parecendo um robô, porque tenho medo de cair no chão”, explica.
De acordo com Fernanda Das Mädchen, uma queda durante o ensaio de uma peça foi o motivo para o crescimento da fobia.
“O piso estava molhado e escorreguei. Desde esse dia, eu passei a ter mais medo de cair”.
Altura? Nem pensar!
O medo prejudica o dia-a-dia da atriz. Ela conta que já perdeu cenas nos espetáculos por não conseguir ficar
na ponta do palco ou em algum local mais elevado. “Tiraram uma cena que eu ia fazer em uma escada porque estava ridícula. Eu subia e descia na mesma hora”, confessa.
Por conviver diariamente com a fobia, Fernanda evita subir em lugares altos e afirma que os amigos contribuem para a melhora.
“Nunca procurei um médico, porque as pessoas compreendem e me ajudam”.
Aerofobia, o medo de voar em aviões
Por Hayanne Narlla
A sensação de estar voando e poder cair a qualquer momento é assustadora. O medo de avião pode prejudicar,
principalmente, aqueles que desejam viajar. Como foi o caso da educadora Renata Costa, que já deixou de viajar para a Europa por conta do medo.
“Já é difícil viajar. E na época que eu estava grávida, perdi uma viagem pra Europa, porque tive um medo de morrer especial.
Eu grávida não iria. A gente perdeu as passagens que já estavam pagas”, revela Renata.
Renata contou, que com a ajuda de um profissional, já houve melhoras. “O trabalho psicológico e a racionalização do medo ajudam. Quando eu tento racionalizar,
vejo que tenho mais chances de morrer atravessando uma rua do que numa queda de avião”, explicou. “Percebo que, quando eu enfrento, melhora”, pontua.
Como Surgiu?
Não sabendo ao certo quando surgiu, Renata comentou que, em um determinado voo, sentiu angústia. A partir daí percebeu que tinha aerofobia.
“Na ida tenho mais medo que na volta. Na decolagem tenho mais medo que na aterrissagem. Quando você vai se familiarizando vai melhorando”, conta.
Segundo Renata, o relato do medo de avião desperta a solidariedade de quem fica sabendo. “Algumas se solidarizam, falam que também não pode nem ver avião.
Já outras dizem que é besteira, que não faz sentindo, tentam tranquilizar. Raramente ridicularizam”, ressalta.
Aracnofobia, o medo de aranhas
Por Hayanne Narlla
O mal estar causado por diversos tipos de animais é bastante comum. Entre os mais temidos, estão as aranhas.
O temor do animal - que em alguns casos possui veneno letal - acaba gerando a aracnofobia.
O estudante de Engenharia Civil Ivo Araújo, de 23 anos, possui esse medo “desde sempre”. Ao relembrar da infância,
época em que morava no interior do Ceará, Ivo conta que havia muita aranha em casa. “Era muito comum, era como se fossem as formigas em Fortaleza”, relembra.
“Quando era militar, alguns treinamentos eram no meio do mato, eu me sentia incomodado se tivesse alguma coisa batendo em mim, acha logo que era aranha, saía correndo”, comentou.
Segundo o próprio estudante, o medo é tão grande que nunca conseguiu matar um simples aracnídeo.
Ivo nunca procurou um especialista para falar sobre o assunto. Apesar da fobia declarada, ele afirma que isto não atrapalha seu dia-a-dia.
“Nunca houve brincadeira. Todo mundo age normal quando sabe”, explica.
Brontofobia, o medo de tempestade
Por Roberta Tavares
Relâmpagos, ventanias e trovões. Basta um clarão no céu para a pedagoga Maria do Socorro de Alencar Holanda, de 62 anos, ficar apavorada.
“Quando começa a chover, já coloco o dedo no ouvido para não escutar o barulho do trovão. Também fico de olho fechado pra não ver a claridade do relâmpago”.
Maria do Socorro conta que a brontofobia foi adquirida por conta do medo que a mãe tinha de chuva. “Minha mãe chorava e ficava muito nervosa”.
Ela afirma que nunca procurou ajuda médica, apesar de perceber que a fobia tem aumentado com o passar dos anos.
A família ajuda Maria do Socorro como pode. “Meu marido e minha filha me pedem que eu não fique nervosa, falam que não faz medo; mas, mesmo assim, não consigo ficar calma”, conclui.
Em época chuvosa, a pedagoga evita até sair de casa. A sorte dela é que em Fortaleza não chove muito. “Odeio chuva! Tenho medo e pronto”, conclui.
Claustrofobia, o medo de ambientes fechados
Por Hayanne Narlla
Sabe aquela sensação de falta de ar e sufocamento? Isso é o que a administradora, Adriana Matos, de 38 anos, sente ao se encontrar em um local fechado.
Tal medo caracteriza a conhecida claustrofobia, uma espécie de aversão ao confinamento.
“A sensação que tenho é que tem alguém me sufocando, falta o ar, a vista começa a escurecer, tenho vontade de desmaiar e fico gelada”, disse.
Segundo Adriana, há três anos, ela começou a sentir falta de ar em lugares fechados, mas não sabe como isso surgiu e nunca procurou alguma ajuda médica.
“Não sei como apareceu, mas comecei a sentir medo quando ficava no carro fechado, sala que não tem janela aberta. Em avião, tenho medo por saber que estou fechada dentro”, explicou.
Ainda de acordo com a administradora, a espécie de fobia foi aumentando. “Antigamente, eu não sentia. Após uma viagem aos EUA,
passei muito mal ao dormir no avião. Quando levantei minha filha estava em cima de mim. Tive que ficar de pé pra poder me sentir melhor”, relembra.
Vergonha
Adriana contou que o medo prejudica em alguns momentos da rotina. “Uma vez viajei a Icapuí, a trabalho, e o carro estava muito apertado.
Passei mal, mas fiquei com vergonha de falar. Só depois as pessoas perceberam e eu contei”..
Para Adriana, as pessoas possuem uma reação negativa ao saber da fobia. “Quem não tem, nunca acha que é verdade.
Pensa que é frescura, diz que é besteira. Acaba não respeitando e não dando muita importância”, lamenta.
Medo de dirigir, o pânico do trânsito
Por Roberta Tavares
O medo de dirigir é uma fobia comum nos dias atuais. Não é raro encontrar um motorista habilitado que usa a
Carteira Nacional de Habilitação (CNH) apenas como um documento de identidade ou CPF. Dirigir? Nem pensar.
O estudante de Engenharia Metalúrgica, Pedro Chaves, de 22 anos, tem medo de dirigir desde que se envolveu em um acidente de trânsito,
na rua Valdetário Mota, bairro Papicu, em Fortaleza. De acordo com o jovem, um motociclista avançou a preferencial e se chocou no capô do carro.
“A sorte era que eu estava muito devagar, a uns 40 km/h, e consegui frear”, conta aliviado.
A fobia atrapalha o dia-a-dia de Pedro Chaves. Ele afirma que passou a fumar quase uma carteira de cigarro por dia após o acidente.
“Quando o trânsito está muito engarrafado, ou coloco alguma música, ou paro o carro e acendo um cigarro para conseguir me acalmar”, diz.
Segundo Pedro Chaves, que tirou a CNH há três anos, os amigos ajudam bastante. “Se a gente vai pra uma festa e tem muito carro na rua, eu já passo pra eles a direção”.
Os pais do estudante também colaboram: “Já quiseram me levar ao psicólogo, mas eu resolvi encarar o medo”, finaliza.
Necrofobia, o medo de morte
Por Hayanne Narlla
Morte. Quem não possui o medo de perder alguém próximo? Após o trauma da perda da avó, quando tinha cinco anos, a estudante de
Processos Químicos Luanna Loyola, 20 anos, criou um medo de morrer e de perder mais alguém próximo.
Foi um sofrimento muito grande. Tenho receio de quando eu morrer a família passar pela mesma coisa”, revelou. De acordo com Luanna, o pavor foi aumentando de
intensidade com o passar dos anos. Mas após ter participado de um curso de Eneagrama, produzido pela comunidade católica Shalom, ela afirmou que houve melhoras.
“O curso trata da personalidade das pessoas, de novos tipos de personalidade. Mostra que, em algum momento da sua infância, um ponto sobressai”,
explica. Ministrado por profissionais do Shalom, o curso acontece em três etapas. Cada etapa é um fim de semana.
Receio
Luanna lembra que possui diversos medos causados pela necrofobia. “Tenho medo de altura, porque tenho medo de cair e morrer.
Não ligo as coisas na tomada, porque posso tomar um choque. Tenho medo de ações que podem me levar a morrer”, conta.
lém disso, os lugares que lembram a morte também são temidos, como o cemitério. “Não visito cemitério, porque é uma dor muito grande.
A sensação é que eu vou pra junto do povo que tá enterrado”, desabafa.
Nictofobia, o medo de escuro
Por Hayanne Narlla
Nos filmes de terror, o escuro é utilizado para dar sustento ao pavor do vilão, suposto monstro ou assassino, por exemplo. Desde criança,
o medo de encontrar algo de estranho e novo, na escuridão, é influenciado por aquilo que é mostrado pela TV ou cinema, por exemplo.
A webdesigner Thalita Lopes, de 22 anos, contou que não costuma divulgar o medo de escuro. “Quando alguém comenta algo, eu falo [do medo].
As pessoas olham com cara estranha, acham besteira, acabam não dando importância”, revelou.
“Sempre tive o medo desde criança, nem sabia o motivo, só tinha medo. Depois que fiquei mais velha, eu vi alma, espírito, e no escuro fico com mais medo de ver de novo”,
disse. Thalita descreveu os sintomas quando fica com muito pavor: perna inquieta, nervosismo, respiração ofegante e coração batendo forte.
O medo em si
Para a webdesigner, o medo que costumava sentir quando criança permanece o mesmo. “Se tem um andar que está muito escuro ou se preciso passar
por um corredor escuro não passo. Acompanhada até dá, mas sozinha não”, comenta.
Tecnofobia, o medo de tecnologia
Por Hayanne Narlla
Para os amantes de tecnologias, acreditem: existe gente que odeia tais inovações. A recepcionista Julieta do Nascimento,
55 anos, não quer saber de celulares ou outros tipos de aparelhos modernos. “Eu tenho pavor, eu não quero nem ver”, desabafa.
Julieta não sabe ao certo quando começou a sentir aversão, apenas lembrou que a partir do momento que foram surgindo os aparelhos,
ela foi gerando o sentimento. “Eu ainda uso celular, mas é porque eu preciso”, explica.
Segundo a recepcionista, o pavor é por conta do receio de que as máquinas possam dominar o mundo. “Daqui a pouco não existem mais pessoas”, conta.
“As pessoas dão mais valor às máquinas do que ao seres humanos”, diz. Ela conta que, atualmente, os jovens, principalmente,
possuem mais contato virtual do que pessoal, e isso lhe incomoda. “Diminui o ambiente familiar”, disse.
Reação
Segundo ela, ao saber da aversão de Julieta, alguns conhecidos apoiam, mas a maioria pede para que ela “se renda”. “Não adianta, eu não gosto mesmo”, falou. Para ela, o
único ponto negativo é o fato de todos estarem conectados à internet, por exemplo, e, por conta disso, ela possua poucos amigos.
Velhos hábitos
Com pavor a inovações, os hábitos antigos são conservados na rotina. Julieta contou que ainda ama escrever cartas.
“Tenho a letra bonita e adoro escrever cartas, só lamento não ter mais pessoas com esse hábito”, lamenta..